terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sala de aula é lugar de brincar?
Tânia Ramos Fortuna
"Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo.
Se é triste ver meninos sem escola,
mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar,
com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."
(Carlos Drummond de Andrade)

Sala de aula é lugar de brincar. Porém o que está em jogo não são apenas arranjos nos planos de aula e de curso, mas, paradigmas que determinam as relações entre professor e alunos. Muitos de nós ainda acreditamos que se sairmos dos modelos tradicionais perdemos o “respeito” dos alunos, quando na verdade chegar bem perto e conviver com as crianças temos que assumir uma postura de “humanos” que é difícil, pois envolve sentimentos. Demonstrar sentimentos e saber relacionar-se com estes é que é problema.
Referente às questões contidas na introdução do texto nada mais propício que sejam “respondidas” por professores que tem a prática da sala de aula e o comprometimento com as transformações que a educação exige.
Enquanto professora da segunda série, é comum os pais desconfiarem dos métodos de ensino, pois as crianças vem de casa com uma super proteção, jogar bola e correr, pular corda e brincadeiras que exigem atividades corporais das crianças são vistas pelos pais como brincadeiras perigosas. Até os pais compreenderem os objetivos de cada atividade e os benefícios que estas proporcionam no desenvolvimento integral da criança, vai alguns meses e muito verbo. Tive de ter calma e a cada caso comunicar-me de forma individual e única. Quando um menino se machucava, por exemplo, jogando futebol, explicar que grandes craques brasileiros saem dos campos muitas vezes em macas, etc., etc.
É incrível, mas ainda vejo colegas não liberando brinquedos na hora do recreio por motivos tão fúteis que nem vale a pena mencionar. Resultado: As crianças ficam muito mais agitadas, machucam-se e vêem o recreio com um momento de liberdade onde muitas vezes não têm a mínima noção do que fazer com este tempo livre sem o controle dos adultos. Tenho ficado muitas vezes na hora do recreio por que acho muito mais divertido dar sentido a estes momentos do que simplesmente nada fazer. Coloco o rádio e há uma concentração de crianças envoltas às que dançam, ou por admirarem a música, ou por admirarem quem dança e não raros os casos em que perdem a timidez com o passar dos dias e vejo quem não imaginava ver, dançando e soltando-se livremente. Isso é compensador. “Esperam ser moderada, mas firmemente obrigadas a participar na aventura de descobrir que podem aprender a realizar coisas em que, por si mesmas, jamais teriam pensado, o que proporciona um sentido simbólico de participação no mundo real dos adultos (1987: 127).”
Na interdisciplina de Seminário Integrador II, semestre passado, tivemos uma atividade de pesquisa em relação aos brinquedos e brincadeiras que os pais das crianças gostavam na suas infâncias, e fizemos uma comparação com as preferências das crianças de hoje. Foi uma atividade rica em informações, usei estas para planejar atividades lúdicas que conduzissem o conhecimento de forma mais alegre e dinâmica. Descobrimos com os dados e gráficos que as crianças se divertem mais com brincadeiras e jogos feitos com sucatas, do que brinquedos industrializados.
Concordo com o autor (Tânia Ramos Fortuna2) do texto quando diz que não é qualquer jogo que influencia no desenvolvimento e na construção do sujeito, por isso a intervenção e orientação do professor fazer isso em sala de aula propiciando esta ligação e inserção na realidade.
“Escreveu Freud: No início achava-se numa posição passiva, era dominada pela experiência; repelindo-a, porém, por mais desagradável que fosse, como jogo, assumia
papel ativo (id.:27).” Neste sentido que podemos observar que através dos jogos as crianças tornam-se agentes de seu próprio aprendizado buscando o conhecimento.
Em Busca da Ilha Desconhecida de José Saramago”, texto que lembrei nesta atividade, nos faz lembrar do quanto estamos crescendo à medida que progredimos nas leituras e executamos as atividades.
Os adultos ainda têm uma idéia de que brincadeira não é coisa séria, mas, se vê indícios desta necessidade camuflada em atitudes que passam despercebidas pelas mentes mais atentas. Quando fazemos piada e o próprio humor resgata este brincar que julgamos coisa de criança, sem que sejamos censurados. Ouso dizer que todos os conteúdos que fazem parte do currículo escolar, podem ser transmitidos e aprendidos pelos alunos através de jogos e brincadeiras, sendo necessário que o professor tenha uma formação para lidar com as muitas questões que vão surgir no decorrer do processo. Uma das questões é o preconceito e idéias retrogradas em relação ao brincar, que este recurso não é entendido como um meio sério do desenvolvimento das crianças e de suas potencialidades bem como um meio de aprendizagem.


REFLEXÃO: O exercício do “faz de conta”, mostra muito sobre como cada aluno lida com o mundo e sua personalidade. Recriando situações do cotidiano e experimentando sentimentos básicos, como o amor e o medo, percebí que meus alunos aprendiam lições valiosas de vida, desenvolvendo a autonomia e imaginação. Através destes momentos, encontrei muitas informações interessantes sobre minha turma, que foram úteis para lidar com a classe, tais como: assuntos que preocupavam os alunos (temas geradores); como eles se relacionavam, traços de personalidade de cada um (líderes, tímidos, práticos,...). Foi mais fácil saber como estavam emocionalmente, os termos que dominavam e seu nível de linguagem.
O crescimento da turma foi notório, pois se tornaram mais organizados, socializados, explorando através de suas brincadeiras as mais diversas situações do cotidiano, resolvendo conflitos, redescobrindo idéias e trabalhando sentidos como bem e mal, coragem e medo, vingança e perdão. Conceitos contrários e vitais no mundo infantil.

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